PESSIMISMO (Dionísio) x OTIMISMO (Apolo)

Tanto se fala na força do pensamento positivo que temos uma vasta “literatura” de auto-ajuda abordando o tema. Pesquisas tem sido publicadas sobre os benefícios causados pelo pensar positivo, tais como: conexões cerebrais, as chamadas sinapses entre os neurônios e uma série de outros efeitos benéficos para a mente humana. Se da certo ou não para o homem alcançar seus objetivos, essa não é a grande questão. Uma coisa fica bem claro, tais pensamentos podem deixar o homem longe das verdadeiras questões da realidade, como as leis, a política e a busca da própria felicidade.
Podemos desejar um bem de consumo ( um posche ) ou uma bolsa de estudo de pós-graduação e consegui-la. Parabéns! No entanto após conseguirmos, cairíamos num cilclo de desejo e frustração contínuo. Pelo menos foi o que refletiu o filósofo Arthur Schopenhauer a respeito dessa necessidade humana. Desejamos, conseguimos, nos entediamos, percebemos que a vida segue como sempre e partimos para outro desejo.
De acordo com Arthur Schopenhauer, os objetivos traçados pelo homem não são mais que
modos de esconder a dor de viver e a falta de sentido na vida, que quando conseguidos deixam de ter importância. “ São dessa natureza os esforços e os desejos humanos que nos fazem vibrar diante de sua realização como se fossem o fim último de nossa vontade; mas, depois de satisfeitos, mudam de fisionomia, esquecidos ou relegados, colocados de lado como ilusões desfeitas” ( O Mundo Como Vontade e Representação ).
Só existiria uma forma de fugir desse ciclo de vontade e frustração, tão comum nos dias atuais em que prevalece a sociedade do consumo alienado. Schopenhauer, tido por alguns como o “filósofo do pessimismo”, sugere que as pessoas deixem de dar tanto valor a desejos cotidianos. E passem a entender que o sofrimento não só faz parte da vida como dá sentido a ela. Pois o grande desafio da nossa existência seria aprender a lidar com o sofrimento. Vida x Morte; Amor x Ódio; Mal x Bem; Pessimismo x Otimismo; Dionísio x Apolo; etc., A luta dos contrários, sempre fizeram e farão parte da existência humana, ou melhor, são faces opostas de uma mesma moeda. Nós não saberíamos o que é um sem a existência do outro.
Nesse sentido, para evitarmos que entremos em um colapso neural em virtude de desejos não alcançados de tanto repetirmos para nós mesmos aquela frase daquele livro, que iríamos conseguir, é melhor estarmos sempre preparados para o pior. Joguemos então na fogueira todo tipo de livro que nos iludam sobre um mundo sem cheios de maravilhas, sem fome, guerra, mortes, inveja, destruição, etc. Pois, de acordo com filósofos jus-contratualistas (Locke,Hobbes,Maquiavel,Russeau), isso faria parte da natureza humana. Caberia a nós lapidarmos esse instinto, através do uso de uma boa razão, onde admitiríamos nossa condição de finitude, nossas fraquezas e limitações.
A História está cheia de exemplos que ilustram esse excesso de otimismo. A Revolução Científica no século XIX, caracteriza muito bem esse otimismo que levou o homem a acreditar que poderia com o uso da razão, resolver qualquer problema tecnológico ou social. Ao se criar máquinas para trabalharmos menos e nova instituições ( comunismo, fascismo, capitalismo ,etc ) para vivermos em paz. Contudo, o que se presenciou foi o mesmo uso dessa mesmo razão criadora para fins maléficos, como as guerras das mortes em massas.
Ora, então não teríamos alternativa? Não deveríamos pensar numa melhora de vida e do mundo? Sim, devemos buscar melhoras pessoais e humanitárias, porém devemos ter em mente sempre o “pessimismo”, na medida que, ele nos garante a própria sobrevivência. Pois, é o medo da morte que me leva a ser prudente. A defesa de uma país por parte de suas forças armadas, leva em consideração o pior cenário de guerra. Os bombeiros simulam grandes tragédias em seus treinamentos, para melhor atuarem na vida real, e assim por diante...

Fica então, uma possibilidade de sermos otimistas. Ao levarmos sempre em conta o que pode acontecer de ruim, se desconfiarmos sempre de nosso caráter, existirar sempre uma possibilidade, mesmo que bem ínfima, da vida dar certo.