sábado, 19 de junho de 2010

"O Mundo ficou mais burro e cego". (F.M.)




Quem não está mais aqui (no planeta Terra, desde sexta 18/06/10 ), pois como o mesmo também dizia, morrer é só deixar de estar aqui, foi José Saramago. Considerado por muitos como um dos maiores nomes da cultura portuguesa e mundial, cuja obra, ainda há de ser reverenciada por muitas gerações vindouras. Ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1998. Saramago representou de forma crítica em sua literatura, através de personagens e contextos, toda uma angustia e projeção humana. Uma discussão que perpassa pela Pólica, Ética, Epistemologia, etc. Tal sua abrangência imagética narradas em seus livros.

Filho de família pobre, teve que enfrentar a falta de recursos e a ignorância familiar ainda muito cedo Tornando-se depois um militante de esquerda, comunista. Porém, Saramago nunca se deixou levar por
fileiras cegas partidárias. Sua militância estava presente nos livros ao abordar as várias incoerências presentes nas ações humanas. Ainda em vida teve reconhecimento, após sua morte também, presente nas várias declarações dadas por partes das autoridades de Portugual, incluindo a Igreja. Tanto por parte de amigos quanto por adversários.
Em função de suas produções, Saramago se exila (1993) nas Ilhas Canárias (Espanha) devido a vetação feita pelo Partido Social Democrata do livro “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, para concorrer ao Prêmio de Literatura Europeu. Contudo, seu reconhecimento como um dos grandes escritores do Século XX não tardou a chegar. Vai-se o corpo de José Saramago e ficam as Idéias que teimam em ecoar pelo espaço, visto sua obra de ser cunho atemporal. Considerado por muitos, um homem sem vaidades, atencioso com escritores mais jovens, “reto, sereno e lúcido”. Será um estóico do Século XX ? Um Sêneca Português.? Bem, não importa muito isso, apenas ficamos com uma sensação de vazio. “O mundo realmente fica mais burro”.
O Filósofo alemão Arthur Schoipenhauer, em seu livro “O Mundo Como Vontade e Como Representação”, diz que os Gênios não nascem a toda hora, pois só os mesmo podem se desligarem da imediatidez da vida, para poder entende-la. No caso de Saramago, temos a presença do Gênio Esteta Criador. Aquela que usa do conhecimento para negar e afirmar a própria vida, aquele que consegue ter uma compreensão muito profunda do que é o mundo.
Tivemos a oportunidade de sermos agraciado com uma obra cinematográfica dirigida por Fernando Meirelles, baseada em um de seus livros: “Ensaio Sobre a Cegueira”. Saramago que até então não tinha dado autorização de filmagem de nehuma de suas obras. Aprovando a produção do brasileiro Fernando Meirelles, e como se não bastasse, ainda se ofereceu para ajudar naquilo em que ele tivesse dúvidas. Depositando ainda mais responsabilidade para o jovem diretor.
O que no final acabou dando tudo certo, pois tanto o público quanto o Próprio Saramago aprovaram. Ocasião esta, onde o mesmo se emocionou ao assistir ao filme junto com Fernando Meirelles. Tal filme contou com grandes nomes do cinema internacional, tais como: Danny Glover. Que interpretou o “velho da venda preta”. Talvez o alter ego do prórpio escritor, onde sua vida foi voltada mais para o mundo interio, buscando escapar da superficialidade do mundo sensorial.
Na epígrafe de seu Livro “Ensaio Sobre a Cegueira” ele diz: “Se pode olhar veja, se pode ver, repara”. Talvez o mundo, enquanto representação do homem, este ainda esteja apenas “reparando” Quando passarmos a “Olhar” realmente para aquilo que importa, talvez deixemos os conflitos de todas espécies de lado, para daí passarmos a nos perceber no outro enquanto uma extensão do meu próprio “eu”. Penso ter sido essa, uma das propostas desse grande escritor.


















Um comentário:

Alan Marcos disse...

“Se pode olhar veja, se pode ver, repara”...infelizmente a grande maioria das pessoas jamais verá, pois não tiveram oportunidade de conhecer em vida, espero que depois da morte ele seja conhecido no brasil(que infelizmente aqui é assim, tem que morrer antes)