Um Mestre Maranhense

Depois uns meses de recesso, estamos de volta para contribuirmos com o universo da Cibercultura, pois as informações dentro Ciberespaço não param de girar. Nesse sentido, é que não poderíamos deixar de fazer referência a uma grande perda ocorrida no meio artístico cultural maranhense e brasileiro, quiçá mundial. A morte de cantor e compositor Antônio Vieira, ocorrida dia 07/04 em virtude de acidente vascular cerebral (AVC). Ludovissense da gema, de uma época áurea da Ilha, tinha uma sensibilidade apurada para perceber toda uma sociedade e suas relações, parecidas com aquelas de gênios como Lima Barreto, no campo da literatura. Principalmente, no diz respeito ao comportamento daqueles mais humildes, que eram fonte inspiradora para suas músicas/poesias.

Negro, podre, criado por parentes próximos de sua família com condições melhores, teve oportunidade de estudar e concluir seus estudos. Algo raro até para os dias atuais. Compôs mais de 400 canções, sendo que sua primeira música foi “Mulata bonita”, composta aos dezesseis anos. Passou grande parte de sua vida desconhecido do grande público, assim como outros grandes artis tas brasileiros, tais como Cartola, Nelson Sargento, Clementina de Jesus e tantos outros.

A exemplo de outro artista maranhense, nosso saudoso

João do Vale, que se projeta nacionalmente – e vice-versa, na voz de Maria Bethânia cantando “Carcará”, Antonio Vieira ganha reconhecimento regional e nacional – e vice-versa, na voz da também artista maranhense Rita Ribeiro, cantando “Cocada”, que valeu a indicação de melhor canção ao autor da letra no Prêmio Sharp em 1997.

Mestre Antônio Vieira, como era conhecido em São Luís, tinha um gosto refinado, apesar de suas letras serem simples, ao retratarem o cotidiano das pessoas comuns, com seus amores e sofrimentos. Esse, a meu ver, acaba sendo a grande genialidade desse artista, e de tantos outros. O fato de traduzirem para uma linguagem comum, essa realidade complexa e paradoxal. Suas influências iam do clássico,como Chopin, aos grandes nomes que marcaram a época de ouro da rádio, tais como Donga, Pixinguinha, Noel Rosa, Assis Valente, Dorival Caymmi, Ary Barroso, Vadico, etc.

Ao assistir uma reprise de uma reportagem com o Mestre Antonio Vieira, em uma emissora local, perguntaram-lhe por que demorou tanto tempo para começar a cantar. Sabiamente respondeu: “em minha época tinha como exemplo os grandes nomes da música, como o Silvio Caldas, Altemar Dutra, Nelson Gonçalves, então não me atrevia a cantar. Pois perto desses monstros, quem era eu? Agora, nos dias atuais, qualquer um se mete a cantar! Então vou cantar também! rsrsrsrsrs”.

Grande Mestre! Além de um grande compositor, também um grande filósofo. Fica aqui nossa homenagem a tamanha personalidade maranhense e brasileira. E para refletir, mais uma pérola dita por ele em uma suas entrevistas. “O pobre quer ser rico, o rico quer ser nobre, o nobre quer ser artista, o artista quer ser Deus. Depois de Deus, só pode ser artista”.